O Cidadão do Mundo

Migração e resistência em “O Cidadão do Mundo” de Chico Science

Em “O Cidadão do Mundo”, Chico Science aborda a fome e a desigualdade social como experiências universais, mas que se manifestam de forma intensa no Nordeste brasileiro. A música faz referência direta a Josué de Castro, importante pensador que denunciou a fome como um problema social e político, reforçando o tom de denúncia e resistência da canção. Ao narrar a trajetória de um jovem que deixa o interior em busca de sobrevivência na capital, Chico Science constrói uma metáfora sobre a migração forçada pela necessidade, evidenciada em versos como “Só queria matar a fome / No canavial da beira do rio”.

A letra também valoriza elementos da cultura pernambucana e afro-brasileira, como em “Daruê malungo, Nação Zumbi” e “Tô na Ginga, Zumbi, Veludinho / E segura o baque do mestre Salú”, conectando o personagem à força coletiva das tradições locais e ao movimento Manguebeat. O manguezal, símbolo do movimento, representa um espaço de sobrevivência e criatividade, onde “só tem caranguejo esperto / saindo deste manguezal”, metáfora para a astúcia dos marginalizados. O tom popular e descontraído, com expressões como “Tô liquidado / O pivete pensou”, torna a crítica social mais acessível, misturando humor, ironia e resistência cotidiana. Assim, a música celebra a identidade cultural e a luta coletiva diante das adversidades, transformando a exclusão em força e pertencimento.