Maracatu de Tiro Certeiro

Violência e resistência em “Maracatu de Tiro Certeiro”

Em “Maracatu de Tiro Certeiro”, Chico Science faz uma crítica direta à realidade das periferias urbanas do Recife. O trocadilho “Urubuservando, a situação” mistura a imagem do urubu, símbolo de morte e decadência, com a ideia de vigilância constante, mostrando o olhar desconfiado e atento de quem vive à margem. Elementos como a “lama até o meio da canela” e o “mangue afundando” representam tanto o ambiente físico quanto a sensação de sufocamento e abandono social enfrentada pela população local.

A letra aborda a violência cotidiana de forma crua, usando a bala e o tiro como metáforas para a brutalidade e a imprevisibilidade da vida nas periferias. O verso “Como bala que já cheira a sangue / Quando o gatilho é tão frio / Quando quem tá na mira – o morto!” evidencia como a morte se torna algo banal e como as relações humanas se tornam frias diante da desigualdade. A repetição de “Fumaçando! Fumaçando! Fumaça!” reforça o clima de tensão e o risco constante de explosão de violência. Já o trecho “Não saca a arma não... Já ouvi, calma!!!” revela o medo e a necessidade de autocontrole diante do perigo iminente.

Apesar desse cenário duro, Chico Science também destaca a resiliência dos moradores: “Tem gente que é como o barro / Que ao toque de uma se quebra / Outros não! / Ainda conseguem abrir os olhos / E no outro dia assistir TV”. Assim, a música mostra que, mesmo diante da violência, muitos seguem em frente, adaptando-se à realidade. A fusão do maracatu com elementos urbanos reforça a convivência entre tradição e modernidade, tornando a faixa um retrato marcante das contradições sociais brasileiras.