A Cidade

Desigualdade e resistência em “A Cidade” de Chico Science

Em “A Cidade”, Chico Science faz uma crítica direta à desigualdade social nas cidades brasileiras, especialmente em Recife. O verso repetido “O de cima sobe / E o de baixo desce” expõe a permanência das diferenças entre classes, mostrando como a mobilidade social é praticamente inexistente. O artista utiliza imagens como “pedras evoluídas” e “pedreiros suicidas” para mostrar que o crescimento urbano acontece às custas do sacrifício dos trabalhadores, enquanto a elite se beneficia desse progresso sem se preocupar com quem está na base da sociedade.

A letra apresenta a cidade como um espaço de convivência forçada entre diferentes grupos – “mendigos ou ricos”, “trabalhadores, patrões, policiais, camelôs” –, mas deixa claro que essas posições são desiguais e raramente mudam. Ao dizer que a cidade foi “prostituída por aqueles que a usaram em busca de uma saída”, Chico Science denuncia a corrupção e o uso predatório do espaço urbano por interesses privados e políticos. Mesmo com a “esperteza internacional”, a situação segue “sempre mais ou menos / sempre uns com mais e outros com menos”, criticando a falsa ideia de progresso e a persistência das injustiças.

No final, Chico Science aponta para a cultura como forma de resistência: “Eu vou fazer uma embolada / Um samba, um maracatu / Tudo bem envenenado... pra gente sair da lama e enfrentar os urubus”. Ele sugere que a mistura de tradições populares com novas influências, como faz o manguebeat, pode ser um caminho para enfrentar os problemas urbanos. O verso “Recife acordou / Com a mesma fedentina do dia anterior” resume o sentimento de estagnação, mostrando que, apesar das tentativas de mudança, os desafios permanecem.