Se Um Dia Chorei

Confiança e celebração em “Se Um Dia Chorei”, amor livre

“Se Um Dia Chorei” inverte a lógica do romance ao abrir com uma declaração de identidade — “Amor da sua vida” — dita com segurança, sem buscar validação. A repetição “Se um dia chorei nem lembro” não sugere esquecimento, mas uma decisão de arquivar a dor e viver o presente. A narradora chega para “bagunçar sua rotina” e combina destino e escolha em “Você sabe que o seu futuro é comigo / Há de chamar de destino”: o acaso até pode ajudar, mas quem conduz é ela. O vocabulário é direto e sensorial (“arder de desejo”), e imagens como “morar no seu peito” unem intimidade física e casa emocional, sinal de estabilidade após tempestades. O refrão reforça a superação como um mantra, transformando passado difícil em combustível para um amor assumido, expansivo e feliz.

Inserida em Especiarias (2025), álbum de Claudia Leitte que mistura samba, pop, rock e canções românticas — uma síntese de sua trajetória —, a faixa veste essa mensagem com energia festiva. O clima leve e contagiante sustenta a proposta de “revitalizar” o amado e a própria narradora, em diálogo com temas recorrentes da artista: amor, superação e celebração da vida. Até a ideia de destino “que me entregou de bandeja” traz duplo sentido: entrega ao acaso e, ao mesmo tempo, um jeito brincalhão de dizer que tudo finalmente se encaixou. No conjunto do álbum — cuja capa, grafitada por Muricy, revisita a caminhada da cantora —, “Se Um Dia Chorei” atualiza essa biografia afetiva com uma certeza madura: o passado não manda mais; o futuro, confiante e descomplicado, começa agora.