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Letra

    Eu me auto desconjuro, amor
    Fui lascivo à sua inocência
    Eu que fiz unânime a dor
    Nunca julgue pela aparência.

    Sou tabelião e reconheço o mal
    Foi golpe baixo, ilusão
    Recurso corporal.
    Nem sei se a queda fui eu que dei ou que tomei
    Se reprisar na mente
    Verás, trapaceei.

    E, porém, se for possível a paz
    Vou na via dessa descoberta
    Se for sina e ainda assim gilváz
    Iminente, bem na hora certa.

    Eu fiz sem saber, foi pura necessidade
    Mal o bel-prazer é cópia da maldade
    E esse sofrer causa decrepitude
    Joga a juventude pro ar.
    Nesse cafarnaum, a gente se ilude
    Como é que eu pude distar
    Só quis zoar, zurzir, mas também me feri.

    Agora sim, sou alvo fácil pra dor
    Você não está aqui, só no hospital eu vi
    Que é minha culpa pela falta de amor.

    Olha, eu juro, eu não quis te ferir
    Mas eu não estava sóbrio
    Sei que é difícil de engolir
    Mas nada está tão obvio.

    Olha, eu juro, eu não quis te ferir
    Nem sei se era eu próprio
    Mas me machuquei ao perquirir
    Notei o meu opróbrio.

    Ou vou esquecer
    E deixar que essa culpa
    Invada a alma pra perdurar.
    E dizer mais o quê, se você não está?
    Se a própria morte faz a vida condenar.

    Olha, eu juro, eu não quis te ferir
    Mas eu não estava sóbrio
    Sei que é difícil de engolir
    Mas nada está tão obvio.

    Olha, eu juro, eu não quis te ferir
    Nem sei se era eu próprio
    Mas me machuquei ao perquirir
    Notei o meu opróbrio.


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