
Canto XII (Canto Dos Escravos)
Clementina de Jesus
Ambiguidade e resistência em “Canto XII (Canto Dos Escravos)”
Em “Canto XII (Canto Dos Escravos)”, Clementina de Jesus resgata a tradição dos vissungos, cantos de origem africana usados pelos escravizados no Brasil. A alternância entre as expressões “é dévera” (é verdade) e “é mentira” revela uma ambiguidade intencional, característica desses cantos, que misturavam elementos do catolicismo imposto com crenças e códigos próprios dos africanos. A menção a São João, figura central do catolicismo, em “foi no céu, foi passear, foi visitar noss'sinhô”, pode ser interpretada tanto como uma referência à fé cristã quanto como uma metáfora para a busca de liberdade ou proteção espiritual. O termo “noss'sinhô” pode se referir tanto a Deus quanto ao senhor de escravos, dependendo do contexto e da entonação, o que reforça a ambiguidade e a riqueza simbólica da letra.
A presença de palavras como “omen, omenhá, rossequê, coroá” destaca a herança africana e o uso de vocábulos de origem banto, que muitas vezes tinham significados ocultos ou serviam para fortalecer o senso de comunidade e resistência entre os escravizados. O fato de Clementina de Jesus gravar esses vissungos décadas após sua coleta por Aires da Mata Machado Filho representa um importante resgate da memória coletiva dos africanos no Brasil. A repetição e o ritmo hipnótico da canção transmitem tanto a dureza do cotidiano dos escravizados quanto a força de sua espiritualidade e esperança diante da opressão.
O significado desta letra foi gerado automaticamente.



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