Jesus No Xadrez

Humor e crítica social em “Jesus No Xadrez” do Cordel Do Fogo Encantado

“Jesus No Xadrez”, do Cordel Do Fogo Encantado, apresenta uma releitura irreverente da tradicional encenação da Paixão de Cristo, ambientando-a no sertão nordestino. Inspirada no poema de Chico Pedrosa, a música mistura elementos sagrados e profanos ao transformar o drama religioso em uma comédia de costumes local. O protagonista, Quincas Beija-flor, interpreta Jesus na procissão, mas, cansado das chicotadas reais durante a encenação, se rebela e abandona o papel, gerando uma confusão que termina com sua prisão em vez da crucificação. Esse episódio subverte a narrativa religiosa tradicional e destaca a criatividade e o senso de humor do povo sertanejo.

A letra insere o ouvinte no cotidiano rural, onde festas, vaquejadas e procissões são eventos comunitários e os papéis são desempenhados por moradores locais. O humor aparece tanto nas falas quanto nas situações, como quando Quincas reclama: “Ou tu pára de bater ou a gente vai brigar / Jogo já essa cruz fora / Tô ficando aperriado”. Essa abordagem é típica da literatura de cordel, que utiliza oralidade, sátira e crítica social para retratar a religiosidade popular de forma descontraída e, por vezes, contestadora. Ao final, a música brinca com a situação ao afirmar que “foi essa a primeira vez que Jesus foi pro xadrez, mas não foi crucificado”, celebrando a capacidade do povo nordestino de rir de si mesmo e de suas tradições.