Cerol

Racismo, autenticidade e resistência em “Cerol” de Criolo

Em “Cerol”, Criolo utiliza a metáfora do cerol — linha cortante usada em pipas — para abordar a agressividade e a competição presentes tanto no rap quanto na sociedade. Ao perguntar “pra que cerol se tu não sabe laçar?”, ele critica quem busca se destacar apenas pelo confronto, sem habilidade ou propósito real, sugerindo que muitos tentam vencer de forma superficial ou destrutiva. Essa escolha de palavras revela uma denúncia sobre a necessidade de “cortar” o outro para sobreviver, expondo a lógica competitiva e excludente do meio.

A letra também traz à tona as experiências de discriminação racial vividas por Criolo, como nos versos “branco demais pra ser criolo” e “preto demais até pra trabalhar no banco”. Essas frases evidenciam o racismo estrutural e a hipocrisia tanto na sociedade quanto dentro do próprio rap, onde ele esperava acolhimento. O trecho “essas porra no meio do Rap, vai tomar no cu mano” mostra sua indignação com o preconceito dentro do movimento. Ao mencionar sua trajetória desde 1989, Criolo valoriza a luta por respeito e a esperança de transformação social, como em “Muito mais que CD eu quero que a minha voz seja ouvida... porque eu carrego no peito a esperança de melhores dias”.

Ao relembrar a infância nos “barracos de madeira”, Criolo reforça que a verdadeira vergonha não está na pobreza, mas na falta de caráter e autenticidade. Assim, “Cerol” se destaca como um manifesto contra a hipocrisia, a competição destrutiva e o racismo, reafirmando a importância da resistência e da esperança.