Demorô

Resistência e autenticidade em "Demorô" de Criolo

Em "Demorô", Criolo reafirma sua recusa em se submeter a padrões impostos e defende a autenticidade pessoal como valor fundamental. O verso “Ninguém vai me frear, ninguém vai me dizer o que eu devo fazer nessa porra” resume essa postura de resistência, refletindo o contexto do álbum "Ainda Há Tempo", que marca o início da carreira do artista e sua forte ligação com as raízes do rap nacional. A música critica abertamente a hipocrisia social e a pressão para se encaixar, como em “Muda essa roupa, corta esse cabelo. O quê? Vá todo mundo se foder”, rejeitando normas superficiais e valorizando a integridade: “Meu coração tá limpo, querendo fazer o bem”.

A crítica social se aprofunda ao abordar a desigualdade e o descaso com o trabalhador brasileiro, evidenciado em “Trabalhador brasileiro é tratado que nem lixo”. Criolo denuncia a violência estrutural e a falta de oportunidades, mostrando que até mesmo espaços de lazer, como o esporte, não estão livres de injustiças: “Infelizmente vocês sabem que até no esporte rola trairagem”. O artista também aponta a influência do dinheiro na periferia, ao afirmar “Eu tô ligeiro que o que manda é o dinheiro”, e alerta para as consequências psicológicas desse ambiente hostil, como nas linhas finais: “Machucou? Tem coisa que band-aid não sara vagabundo / Tô falando pra você das doenças da mente e das feridas da alma”. Assim, "Demorô" se destaca como um manifesto direto contra a opressão, valorizando a resistência, a dignidade e a saúde mental diante das adversidades sociais.