Duas de Cinco

Desigualdade e resistência nas ruas em “Duas de Cinco”

Em “Duas de Cinco”, Criolo faz uma crítica direta à realidade das periferias brasileiras, usando referências literárias e culturais para mostrar como a exclusão social e a violência são parte de um ciclo difícil de romper. Logo no início, ao citar “no meio do caminho da educação havia uma pedra”, o artista faz alusão ao poema de Carlos Drummond de Andrade para destacar que os obstáculos enfrentados pelos moradores das periferias não são apenas individuais, mas estruturais, impedindo o acesso à educação e perpetuando a desigualdade.

A letra traz imagens fortes do cotidiano, como em “compro uma pistola do vapor / visto o jaco califórnia azul”, mostrando a necessidade de adotar uma postura defensiva para sobreviver em ambientes hostis. O “jaco califórnia azul” também remete à influência cultural e à busca por identidade. O refrão, que utiliza trecho de “Califórnia Azul” de Rodrigo Campos, reforça a conexão entre artistas que compartilham experiências semelhantes. Criolo ainda critica a hipocrisia do governo ao dizer: “um governo que quer acabar com o crack / mas não tem moral pra vetar / comercial de cerveja”, apontando as contradições das políticas públicas. Outras metáforas, como “cocaína é uma igreja gringa de Le Chereau” e “é o kinect do XBOX / por duas buchas de cinco”, mostram como o consumo de drogas e a busca por status se misturam à rotina. O tom irônico aparece em “chega a rir de nervoso / comédia, vai chorar”, revelando o limite entre o humor e o desespero. Assim, a música se firma como uma denúncia social sobre a luta diária por dignidade nas periferias.