Fio De Prumo (Padê Onã)

Espiritualidade e resistência em "Fio De Prumo (Padê Onã)"

Em "Fio De Prumo (Padê Onã)", Criolo faz uma invocação direta aos orixás Bará, Legbá e Eleguá logo no início da música, mostrando um pedido de proteção espiritual e uma busca por equilíbrio diante das dificuldades do dia a dia. O "fio de prumo" do título simboliza a necessidade de encontrar o eixo certo para seguir em frente, especialmente em um contexto de opressão e desafios sociais. A repetição de "Laroyê bará" e "Laroyê legbá" destaca a importância desses guias espirituais no Candomblé, responsáveis por abrir caminhos e afastar o mal, como nos versos: "Abra o caminho dos passos / Abra o caminho do olhar / Abra caminho tranquilo pra eu passar".

A letra traz um retrato direto da vida nas periferias urbanas, com imagens como "muros de concreto infeto" e referências às dificuldades históricas, como o acesso precário à saúde pública nos anos 80. O trecho "A favela aguarda atenta ao revide / Manifesto vira piada, declive" denuncia o cansaço e a descrença diante da violência e da falta de respostas do poder público. Mesmo assim, a canção sugere uma resistência silenciosa e uma fé que persiste diante do "terror psicológico" e da "máquina" que consome vidas. Ao citar "beberemos / nesta água Nicodemos / oremos / pois vamos suar veneno", Criolo mistura referências bíblicas e a ideia de purificação, mostrando que a espiritualidade é tanto refúgio quanto força para enfrentar a realidade. A participação de Juçara Marçal e a fusão de ritmos afro-brasileiros reforçam a ancestralidade e a ligação com tradições de resistência, tornando a música um manifesto de fé, denúncia e esperança.