Adriancito

Contradições familiares e afeto em "Adriancito" do Cuarteto Obrero

A música "Adriancito", do Cuarteto Obrero, aborda de forma direta e com humor ácido a saída de um filho transgênero ou cross-dresser de casa, explorando o impacto desse acontecimento na dinâmica familiar. A letra se destaca por misturar escárnio e afeto, expondo tanto o preconceito quanto o amor presentes em muitas famílias. Termos explícitos e até ofensivos, como "puto" e referências ao trabalho sexual de Adriancito, são usados para ilustrar o estigma social enfrentado por pessoas trans e LGBTQ+. Esses elementos também refletem como temas delicados costumam ser tratados em ambientes populares, onde o deboche e a preocupação sincera frequentemente se misturam.

Apesar do tom cru e das piadas pesadas, a música revela um desejo genuíno de reconciliação e aceitação. Isso fica claro em versos como “Adriancito, negro querido vuelve puto hermoso / Si tenes el culo roto, vení que yo te lo coso” (Adriancito, querido negro, volte lindo puto / Se você estiver machucado, venha que eu curo você). Aqui, mesmo com uma linguagem rude, há um apelo sincero pelo retorno e cuidado. "Adriancito" retrata as contradições familiares diante da diferença: o choque inicial, o preconceito internalizado e, ao mesmo tempo, o laço afetivo que resiste. A canção escancara os desafios sociais e a marginalização, mas sugere que, por trás do humor ácido, existe espaço para o amor e a saudade.