90comDolly (part. Predella)

Realidade periférica e resistência em “90comDolly (part. Predella)”

A música “90comDolly (part. Predella)” de Dalsin utiliza elementos do cotidiano periférico para construir um retrato honesto da vida nas quebradas. O título faz referência ao refrigerante Dolly, símbolo de simplicidade e das limitações financeiras, enquanto “90” sugere situações de risco ou um ritmo de vida intenso. Essa escolha já indica o tom realista da faixa, que aborda a luta diária por sobrevivência e dignidade em meio a adversidades.

A letra traz relatos de perdas e violência, como em “Papai chamou na bullet, desmontou minha sorte”, que sugere a presença de armas e rupturas familiares. Dalsin também valoriza a força das mulheres na criação dos jovens, ao dizer que “aprendeu a ser homem criado por duas mulheres”, destacando o papel materno e feminino na formação dos moradores da periferia. A música alterna entre lembranças do passado difícil e a busca por ascensão social, sem glamourizar o crime ou o consumo. Versos como “É tudo uma questão de conhecer o lugar / Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui” mostram o peso psicológico do ambiente, onde a vontade de desistir é constante, mas a esperança de um futuro melhor permanece. O trecho “Com um malote de dinheiro dá pra refletir” indica que, mesmo com conquistas materiais, as questões existenciais continuam. O cotidiano violento é exposto de forma direta, como na história do “José” assassinado por menores, evidenciando o ciclo de violência e abandono social. No final, a caneta do artista “chora” junto com a favela, expressando empatia, denúncia e resistência, sem perder a humanidade que atravessa toda a música.