Vigário (part. Baratapai)

“Vigário (part. Baratapai)” lealdade, código e ascensão

Em “Vigário (part. Baratapai)”, Dalsin arma um retrato de sobrevivência em que lealdade e silêncio valem mais que pose, e as marcas viram código de rua. O título tem duplo sentido: rebate o “golpe do vigário” e cutuca o moralismo religioso, enquanto o foco é o corre real de “homens... atrás de um salário”. O som dita regras claras: “quem fala pouco é bigode” (confiável), “quem gosta de abrir o bico é canário” (dedo-duro). A linguagem mistura crime e mercado em trocadilhos: “conexões seguras Amanco” (rede blindada), “caneta tá um laser” (negócio preciso), “Houdini” (sumir com a mercadoria), “bala fini”. Há trajetória e ofício: “de 2010 pro seu papel de parede”, “somos melhores pro trampo”. “Bando”, “império” e “os braddock tão montando” reforçam equipe e hierarquia, em linha com a parceria contínua de Dalsin com Baratapai em “Homens de Negócio” e “Sênior”. A cena dos “mais novo” pagando “nosso yakult” marca rito de poder e cobrança.

Na segunda metade, a vigilância aperta: “Judas... deve ter outro plano” e “Se falta com a verdade eu vou faltar com a dó” tratam de traição e resposta. A estética é de prontidão: “secar o pente”, “17, 10 sobressalente” (carregadores/arma). O “brado retumbante” vindo “do fim da galeria” liga periferia e cárcere. Surge a crítica social: “na comunidade só chega uma cortesia israelense... manual ou automática” (arma como brinde da desigualdade) versus “pros engravatado uma dose no fim do dia”. O luxo aspirado — “picanha com parilla”, “bucho cheio de malote” — expõe a fome de ascensão, enquanto “O ódio em casa deixa o da rua pior” lê a violência como sintoma. A estratégia bíblica em “Davi... no vacilo do gigante” guia o jogo; indecisos “vão pro banco” e só “se Cristo joga o manto” salva. O fecho — “4 bico num Corolla branco” e “A M quem que tem? A G é quanto?” — captura o corre codificado da madrugada, com risco, poder e normas não escritas, sem glamurização.