Tequila

Memória e gatilho emocional em “Tequila”, de Dan + Shay

O título promete farra, mas a canção entrega lembrança doída. Dan + Shay usam a tequila não como convite à bebedeira, e sim como gatilho de memória — decisão que, segundo Dan Smyers, foi pensada para subverter a expectativa de uma faixa “animada”. O narrador segue a vida sem tropeçar com outras bebidas — “whiskey” (uísque), “red wine” (vinho tinto), “champagne” (champanhe) —, mas basta “when I taste tequila” (quando eu sinto o gosto da tequila) para a cena voltar inteira: o “sorority t-shirt” (camiseta de fraternidade feminina), o chão da pista, o beijo na garrafa, Colorado. A linha “I ain’t even drunk” (eu nem estou bêbado) reforça que não é ressaca sentimental; é o poder sensorial do paladar trazendo de volta um amor que ele tenta enterrar.

A história é simples e humana: ele até consegue beijar outra pessoa e ouvir as mesmas músicas no mesmo bar, mas a tequila abre um portal para o passado. “Sky high in Colorado” (nas alturas no Colorado) funciona em duas camadas — a euforia do momento e a altitude do lugar —, amarrando memória, desejo e a promessa “swearing on a bible, baby, I’d never leave ya” (jurando sobre a Bíblia, amor, que eu nunca te deixaria), nunca cumprida. O clipe dirigido por Patrick Tracy amplia o tema dos sentidos: em Breckenridge, Colorado, a relação entre uma esquiadora e um caminhante surdo, vivido por Nyle DiMarco, mostra conexões que não dependem só do som, o que casa com a ideia de lembranças despertadas por outros sentidos, como o paladar. “Tequila” transforma um símbolo de festa em gatilho emocional — inversão clara e íntima que explica por que tanta gente se reconheceu na canção.