Buquê de Bebida

Amor sob efeito em “Buquê de Bebida”, de Danilo e Davi

O centro da música é o trocadilho com “altera”: quando ela bebe, fica “alterada” e, ao mesmo tempo, muda o destino do casal. Daí o gesto irônico do título — enviar um “buquê de bebida” à ex para reativar, de modo artificial, um romance que só pega no tranco do álcool. Lançada como faixa inédita do volume 2 de Iniciando Os Trabalhos, em 25 de setembro de 2025, “Buquê de Bebida” junta sofrência ao humor do sertanejo atual e combina com a gravação intimista feita na casa de Belutti (padrinho da dupla), que reforça o tom confessional. O refrão “E sem uma gota de álcool, ela nem lembra de mim / Mas quando ela altera, ela altera nosso fim” explicita a dependência: só há lembrança e reconciliação quando a noite vira junto com a cabeça. O “buquê” vira uma gambiarra emocional, assumindo que o atalho para a memória e o afeto dela é a bebida.

A narrativa do pedido de entrega — “Alô, entregador… não me pergunta nada, só anota o pedido” — dá a medida da urgência e da carência. “A gorjeta é comigo” tenta garantir que o plano saia. O endereço “Rua 44, casa de esquina amarela” e a instrução “Dá três batidas na porta” soam como senha de intimidade e cena clandestina, dependentes de códigos e timing. Quando ele troca 12 rosas por “6 latinhas amarelas, 6 verdinha”, as cores evocam apelidos populares de marcas e acentuam o tom mundano. O duplo sentido se amplia: além de “altera”, “fim” pode ser tanto o término do casal quanto o final da noite que ela reescreve quando bebe. Humor, frustração e resignação se equilibram: ele sabe que esse amor só acende embriagado, mas insiste no ritual e aceita o ciclo.