Julgue-me

Racismo estrutural e resistência em "Julgue-me" de Dark MC

"Julgue-me", de Dark MC, transforma experiências pessoais em uma denúncia direta sobre a hipocrisia social e o racismo estrutural. O artista expõe a dificuldade de falar sobre esperança em um ambiente marcado pela violência e exclusão, como mostra o verso: “Como narrar flor se o sistema opressor faz questão / De expor sua ira contra minha cor”. A trajetória de Dark MC, marcada por batalhas de freestyle, encarceramento e violência policial, aparece de forma explícita na letra, especialmente ao citar episódios como o ataque da PETO (unidade policial da Bahia) e a morte de inocentes, como “Numa criança que vinha do colégio”.

A música utiliza metáforas e críticas diretas para abordar a marginalização da população negra. Ao dizer “O governo aplaudindo / 60 mil negro morto a tiro por ano a PM rege o genocídio”, Dark MC denuncia o genocídio da juventude negra e a conivência do Estado. Expressões como “Contenção é a seita” e “plác, plác! Ki-ki-ki, minha caceta” reforçam a ideia de resistência coletiva e ironizam a violência cotidiana. O artista também critica a autodestruição promovida pelo próprio sistema, como em “Os próprios pretos tão contribuindo com esse sistema fingido / Apontando a peça pro espelho, achando que o preto, que mora em outro gueto, é o seu inimigo”. Assim, "Julgue-me" se apresenta como um manifesto de protesto, onde o rap é visto como instrumento de resistência e resgate social diante da opressão.