Ruas Que Eu Andei (part. Kawe)

“Ruas Que Eu Andei (part. Kawe)” Memória, fé e reinvenção

“Ruas Que Eu Andei (part. Kawe)” espelha a rua no próprio reflexo: se SAUR é “ruas” ao contrário, o projeto propõe encarar o passado para reorganizar quem DAY LIMNS é hoje. O refrão “sou feita de todas as ruas que eu andei” vira manifesto de reinvenção nos sete anos de carreira, assumindo contradições com franqueza — “verdades que eu falei e mentiras que eu contei”. A abertura “Eu ando confiante e desconfiado” define o estado de alerta: confiança para seguir, desconfiança para não repetir armadilhas. Isso dialoga com o rótulo de “potencial desperdiçado”, que ela enfrenta com autocrítica sem se anular: “Acho que eu me desperdicei, mas tudo bem”. A ideia de memória como matéria-prima se alinha à estética crua do vídeo, filmado em preto e branco com iPhone 16 Pro Max pelas ruas de São Paulo e em espaços íntimos, reforçando uma verdade sem filtro.

Quando Kawe entra, a rua vira campo de batalha e também altar. Ele reconhece o corre — “na rua é o bicho”, “linha de frente” — e ancora a conduta na fé: “em oração eu peço que Deus me dê fé” e “Seja santificado o nome do teu filho”. A resistência aparece como escolha prática: admite o impulso da violência — “me aliviaria ao atirar num verme” —, mas se afasta “dessas almas ruins”, usando a fé como freio e direção. As imagens de confronto, como “meu carro é uma bomba” e “explodo esses caras”, funcionam como hipérboles de impacto e domínio no jogo, não como ameaça literal, enquanto “meu nome vai sempre tá em alta” afirma permanência e legado. No fim, o refrão de DAY LIMNS costura as duas perspectivas: identidade feita de rua e de gente, que transforma cicatriz em mapa — a lógica de SAUR, ruas viradas do avesso para enxergar melhor o caminho.