Come Home With Me Baby

Consentimento e pista nos 80 em “Come Home With Me Baby”

Apesar do convite escancarado ao sexo casual, a faixa também marca escolha e limites: “No, I don’t go home with anyone” (Não, eu não vou para casa com qualquer um). Em 1989, essa franqueza bateu de frente com o moralismo e o medo em torno do sexo durante a crise da AIDS no Reino Unido — o que ajuda a explicar o pico tímido em #62 —, enquanto a mesma ousadia se transformou em êxito nas pistas do Brasil, do Japão e na parada dance dos EUA.

A narrativa de “Come Home With Me Baby”, do Dead Or Alive, é desejo sem rodeios: “I don’t need affection… all that I want is a little piece of action” (Eu não preciso de carinho… tudo que eu quero é um pouco de ação). O refrão-gancho “You got the body I want” (Você tem o corpo que eu quero) repete o foco no corpo e coloca a voz em controle, chamando o alvo de “lucky” (sortudo) e descartando sedução vazia: “Smooth talk, don’t impress me” (Conversa fiada não me impressiona). Há consentimento declarado e seletividade: “Ask me once, and I say yes” (Pergunte uma vez, e eu digo sim). O duplo sentido aparece em comandos de pista que valem como convite sexual: “Let’s rock” (Vamos agitar) e “take you to the top/among the stars” (te levar ao topo/entre as estrelas), sugerindo clímax.

Musicalmente, o grupo se afasta do synthpop mais polido dos anos anteriores e encosta no freestyle: batidas sincopadas, baixo marcado e refrão martelado que soam como convite imediato para o pós-festa. Essa moldura de clube combina com a proposta da letra — abordagem rápida, sem floreio — e ajuda a entender por que, fora do contexto britânico mais sensível ao tema, a canção virou hino de pista e liderou rankings onde a dança falou mais alto.