Dangerous

Desejo, prazer e controle em “Dangerous”, do Depeche Mode

O refrão transforma o risco em objetivo: "Dangerous / That’s what I want you for" (Perigosa / É para isso que eu te quero) — o dano esperado vira combustível do desejo. A letra trata a manipulação como um jogo consentido: saber que vai doer é justamente o que mantém a ligação. Logo no início, "The things you do aren’t good for my health" (As coisas que você faz não fazem bem à minha saúde) e "The moves you make, you make for yourself" (As jogadas que você faz, faz por si mesma) admitem o interesse próprio da parceira. Ainda assim, o narrador escolhe esse cenário: "They’re the ones that I would choose" (São elas que eu escolheria). O verso "You wouldn’t let me anyway" (Você não deixaria de qualquer forma) evidencia um desequilíbrio de poder que ele aceita. A intensidade autodestrutiva se condensa em "Know I will come to harm" (Sei que vou me machucar) e "there’s a price I have to pay" (há um preço que eu tenho de pagar).

A repetição de "Dangerous" (Perigosa) no refrão fixa o desejo no próprio perigo, enquanto "lies" (mentiras) e "vicious words" (palavras cruéis) ressaltam a aspereza do vínculo. Há ambiguidade em "The lies you tell aren’t meant to deceive" (As mentiras que você conta não têm a intenção de enganar) e "The means you use aren’t meant to confuse, although they do" (Os meios que você usa não têm a intenção de confundir, embora confundam): pode ser um acordo de encenação ou a racionalização de quem já sabe que está sendo controlado. Em ambos os casos, a escolha é explícita: "I wouldn’t want it any other way" (Eu não gostaria que fosse de outro jeito). Musicalmente, a base synth-pop sensual do Depeche Mode intensifica essa atração perigosa; não à toa, mesmo lançada como lado B de "Personal Jesus", a faixa ganhou forte execução nas rádios dos EUA, prova do gancho imediato entre prazer e ameaça.