Noite Infeliz

Véspera de Natal e nóis aqui, sete mil mano sem motivo pra rir
Já é quase meia-noite, esse horário é cruel, queria poder conversar com o Noel
Ia fazer um pedido assim: Hey, velhinho, traz a liberdade pra mim!
Não foi possível, nem ele me atende, nem sequer veio aqui pra poder ver a gente
Sair não dá, vou dormir se pá, a jega é o melhor lugar pra pensar
Meu pensamento viaja no tempo, lembro de umas fitas e até me arrependo
Fazer o quê, se assim tava escrito? A profecia cumpriu: 2002 depois de Cristo

28 de janeiro de 98
Vou passar batido? Não, espera um pouco
O posto tá vazio, é só dar o bote, é entrar, enquadrar, trazer o malote
Ali tem grana de sobra, don, dá pra repor o que foi gasto no Réveillon
O restante é só investir, demorô, Marquinho? Pode crê, vamo aí
Tô ligeiro e atento, quando ele vacilar, é nessa que eu entro
Já na intenção, fui colando do lado, frentista ignora, de chapéu atolado
Tô tranquilo, sem grito, na pura calma, sem medo, remorso e sem trauma
Vai o quê, gasolina ou álcool?
Shh, quieto, é assalto! Nada pessoal, tiozinho, eu lamento
Na moral, na moral, vamo pra dentro
Cê vai me dar todo o dinheiro, firmeza? Anda, não embaça, põe tudo na mesa!

2-1-0, o tempo acabou
Ganância não vira, o que ficar, ficou
Aí, tiozinho, põe tudo no pacote, vai logo!
Peguei a boa, ih, ganhei na loto, mesmo sozinho, cumpri a missão
Pipoca é pipoca, né? Ladrão é ladrão
Tiozinho, senta aí, não vai sair daqui, fica no sossego, espera eu sair
De canto, filmei o movimento lá fora, tudo normal, essa é a hora
Tô saindo, pela ordem, na lateral da perna, moqueei minha 9 (mm)
Chave no contato, já tô de saída, sinto ao mesmo tempo uma brisa esquisita

Um vento forte bateu no meu rosto, me arrepiei dos pés ao pescoço
Dirijo devagar, mas preciso correr, embaça geral se zé-povinho me ver
Cagueta grandão, se pá até me mata, só pra ser herói, salvador da pátria
Bem no sapatinho, peguei a estrada, uma da manhã, já é madrugada
Minha irmã, sem saber, deve tá me esperando
Itapeva, Minas Gerais, tô chegando
Passo a milhão, atravesso Bragança, esqueci do ditado: Quem espera, alcança
De Saveiro 97 CLI, carro de fuga, melhor que a Parati
Olho pro banco à minha direita, vejo a 9, o dinheiro, e penso: É muita treta
As armas têm um certo poder, faz você pensar que é o foda sem ser
Hoje sei muito bem a real intenção, seja bem-vindo à casa de detenção!
Aê, ladrão, aqui é a sua nova casa, morô? Eu mando e você obedece
Se tiver inimigo, já avisa logo e vai pro 5, certo?