O Político

Ironia e crítica social em “O Político” de Dicró

Em “O Político”, Dicró utiliza a ironia para inverter a lógica tradicional da política: o narrador, que deveria representar o povo, se coloca como vítima dos próprios eleitores, chamando-os de “traidores” e culpando-os por sua derrota. Mesmo após recorrer a práticas antiéticas, como compra de votos e distribuição de favores, ele se mostra indignado com o resultado. O tom sarcástico da música evidencia a relação distorcida entre candidatos e eleitores, mostrando que, apesar de promessas e presentes, o político pode acabar desprezado e ridicularizado. Um exemplo marcante é o retrato do candidato encontrado no banheiro da “central”, símbolo do desdém e da humilhação após a derrota eleitoral.

A letra também explora a desilusão pessoal do narrador, que perde não só a eleição, mas também a companheira, a quem havia prometido o título de “primeira dama”. O humor ácido atinge o auge quando ele revela que nem a própria mãe votou nele, e o único voto recebido foi anulado, escancarando o fracasso total e a hipocrisia do sistema. Ao usar linguagem coloquial e situações absurdas, Dicró faz uma crítica direta tanto à corrupção dos políticos quanto à cumplicidade e desconfiança dos eleitores, criando uma sátira que, mesmo leve, expõe de forma clara os problemas do processo eleitoral brasileiro.