Eu Não Sei Chorar

“Eu Não Sei Chorar”: vulnerabilidade e pedido de amparo

“Eu Não Sei Chorar” desmonta a ideia de que segurar o choro é força. Logo no começo, “Não inveje que isso não é sorte” mostra que a secura é ferida, não orgulho. A imagem de “faca quando deixa aberto o corte” sugere que reter as lágrimas impede a cura; chorar seria o alívio possível. Os quadros de aridez e sufoco — “Sou deserto quando os outros chovem”, “o meu pranto é seco como o ar”, “a garganta aperta devagar” — desenham um corpo que sente, mas não libera a dor. Quando surge “Lágrimas não correm quando dentro alguma coisa morre”, aparece um entorpecimento afetivo que congela a reação. Da constatação da trava nasce o pedido de ajuda: o desejo de “no teu colo debruçar-me” e o apelo “me ensine a transbordar”. O refrão que retorna, “Eu não sei chorar”, mantém o ciclo de frustração.

Lançada em 2025 pela banda gaúcha Dingo, com Rodrigo Fischmann nos vocais, a faixa ganha uma camada íntima no clipe editado por Mayara Stuelp, que usa imagens da infância de Rodrigo. O recurso se liga ao “colo” invocado na letra: sugere raízes precoces para o bloqueio e transforma o pedido de “me ensine a transbordar” em busca de amparo básico. Há um duplo foco em “transbordar”: chorar de fato e, também, aprender a extravasar afetos de forma mais ampla. O “tu” pode ser um amor, uma figura cuidadora ou alguém que ofereça escuta, ampliando o sentido de reeducação emocional. No fim, Dingo converte a incapacidade de chorar em confissão honesta e pedido de cura, sem romantizar a secura nem tratá-la como virtude.