My Eyes

Caminho entre visões e desengano em “My Eyes”, de Dio

Como faixa de encerramento de Lock Up the Wolves (1990), “My Eyes” soa como acerto de contas: um balanço de quem viveu extremos no rock e tenta se manter autêntico. O refrão “Rock and roll eyes” (olhos do rock and roll) expõe tanto o fascínio quanto a fraude do próprio meio: olhos que veem “the color of the rainbows” (a cor dos arco‑íris) e, ao mesmo tempo, são “collectors of lies” (colecionadores de mentiras). O narrador afirma “My eyes can see inside tomorrow / My eyes are true” (meus olhos conseguem ver o amanhã / meus olhos são verdadeiros), mas logo admite ser “believer of lies” (quem acredita em mentiras), revelando a tensão central entre busca por verdade e autoengano.

As linhas “I’ve fallen off the edge of the world... just to rise again” (caí da beira do mundo... só para me erguer de novo) e “I’ve seen it from heaven and hell” (vi isso do céu e do inferno) condensam queda, renascimento e experiências no limite. Há ecos biográficos: de “stargazer” (observador de estrelas, aludindo à fase no Rainbow e à canção “Stargazer”) e “keeper of rainbows” (guardião de arco‑íris) ao cansaço explícito em “I want to be invisible / Just get me out of here” (quero ser invisível / só me tire daqui). A pergunta “Could the dreamer be turning to stone” (será que o sonhador está se tornando pedra) sugere o sonho virando cinismo, alimentado por “rock and roll friends / trends” (amigos do rock and roll / tendências) e por “rock and roll lies” (mentiras do rock and roll) que “never end” (nunca acabam). Ao insistir “Just get me outta here” (só me tire daqui), a voz mostra desgaste com os jogos e ilusões da cena, sem apagar a chama de quem ainda enxerga além e busca um núcleo de autenticidade.