AINDA (part. Dora Morelenbaum)

Afeto e resistência em "AINDA (part. Dora Morelenbaum)"

Em "AINDA (part. Dora Morelenbaum)", Djonga destaca a importância dos laços afetivos diante das dificuldades materiais. O verso repetido “Ainda que o pouco fosse tudo pra nós, a gente teria a gente” mostra que, para o artista, a conexão humana é o principal suporte para resistir às adversidades. Essa ideia se encaixa no contexto do álbum, que trata a fome não só como falta de alimento, mas também como símbolo de desejos, sonhos e da luta para superar desigualdades sociais. A participação de Dora Morelenbaum, reconhecida por sua sensibilidade, reforça o clima de esperança e ternura, mesmo diante da dureza do cotidiano retratado na letra.

Djonga mistura referências pessoais e culturais para construir uma narrativa de luta e orgulho. Ao dizer “Sou Conceição Evaristo pra esses Olavo”, ele contrapõe a força da literatura negra e periférica à visão conservadora de Olavo de Carvalho, evidenciando o confronto entre diferentes realidades sociais. O trecho “Eles têm muito e esconde, nós tem pouco e divide” resume a crítica à desigualdade, enquanto versos como “me feri com o espinho das rosa, eu prefiro o cravo” indicam a escolha pela resistência e autenticidade, mesmo que isso traga sofrimento. As menções a Arya Stark, Rei da Noite, Orkut e horcruxes ampliam o sentido de sobrevivência, coragem e legado, mostrando Djonga como alguém que transforma sua trajetória em inspiração coletiva. Assim, a música equilibra realismo e esperança, reafirmando que, mesmo com pouco, o afeto e a luta conjunta são suficientes para seguir em frente.