Heresia

A crítica social e a afirmação periférica em “Heresia”

A música “Heresia”, de Djonga, se destaca por subverter símbolos tradicionais da cultura brasileira, como o “Clube da Esquina”, para dar protagonismo à voz da periferia e questionar o cânone musical e social. O próprio título e a capa do álbum já funcionam como provocações e homenagens, refletindo uma postura de enfrentamento que aparece em toda a letra. Djonga mistura críticas sociais diretas com imagens marcantes do cotidiano violento das periferias. Quando diz “esse presunto não é de comer”, ele utiliza uma gíria policial para cadáver, escancarando a banalização da morte e a violência nos bairros marginalizados.

A letra tem um tom realista e urbano, mostrando a rotina de criminalidade, repressão policial e falta de oportunidades: “De onde viemos não competem o melhor flow / E sim a melhor pontaria”. Djonga deixa claro que, para muitos jovens, sobreviver é mais urgente do que se destacar artisticamente. As referências a Paul Walker e Clint Eastwood reforçam a ideia de que a vida na periferia é marcada por riscos constantes e pela necessidade de impor respeito. O verso “Os menor não tem Natal é tipo Grinch” evidencia como a infância é roubada pela dureza da realidade, enquanto “Nós somos seu problema, sua solução / Ou então se imaginem sem nós” destaca o papel ambíguo dos marginalizados na sociedade. O clima do álbum, com beats secos e atmosfera melancólica, intensifica o peso das palavras de Djonga, que denuncia o ciclo de exclusão e resistência. Ao afirmar “Suas armas criaram seu próprio algoz / Seu próprio assassino”, ele responsabiliza o Estado e a sociedade pela criação dos problemas que depois tentam combater. “Heresia” é, assim, um grito de denúncia e uma afirmação de identidade, mostrando a força e o poder de transformação da periferia.