Luto (part. Black)

Crítica à apropriação e resistência em "Luto (part. Black)"

"Luto (part. Black)", de Djonga com participação de Black, faz uma crítica direta à apropriação da estética e da narrativa periférica por artistas que não viveram a realidade da favela. Black destaca essa hipocrisia ao dizer: “Cês abraçam playboy forjando ser favela / Mas não abraça quem veio da favela mandando a real ideia”, apontando como o mercado musical e a sociedade valorizam a imagem do sofrimento apenas quando ela é conveniente ou lucrativa, mas rejeitam a voz autêntica da periferia. O contexto digital reforça essa crítica, mostrando que Black questiona a superficialidade de quem finge origens humildes para ganhar credibilidade, enquanto a luta real é ignorada.

Djonga amplia o debate ao conectar sua trajetória à sabedoria ancestral e ao papel de griot, ressaltando a importância da transmissão de conhecimento e da união negra diante do racismo. No trecho “Preto no topo combina / Preto com joia combina / Preto com grana combina / Bala e racista combina / E ai de você se tu disser que não”, a música desafia o racismo estrutural e a ideia de que pessoas negras não pertencem a espaços de poder ou destaque. O verso “Ouviram: Fogo nos racista / E não entenderam a quem me referia quando eu xingo militar” critica a repressão policial e a incompreensão do protesto negro. Já a ironia em “Os boy fingindo depressão, nós fingindo sorriso / Nessas eu ganhei patrocínio da Colgate” evidencia o contraste entre o sofrimento real da periferia e a superficialidade de quem se apropria dessa dor. "Luto" se firma como um manifesto de resistência, autenticidade e orgulho negro, denunciando injustiças e reafirmando a força da união diante da opressão.