Sem Final Feliz

Realidade e resistência em "Sem Final Feliz" de DK47

Em "Sem Final Feliz", DK47 opta por narrar sua trajetória de forma direta e sem idealizações, mostrando a dura realidade de quem cresce na periferia. O título já antecipa a ausência de um desfecho positivo, reforçando que, para muitos, a vida é marcada por obstáculos que raramente se resolvem de maneira satisfatória. A música não busca consolo ou redenção, mas sim expor o ciclo de sofrimento recorrente nesses contextos.

A letra traz relatos autobiográficos de pobreza, violência doméstica, racismo e abandono. DK47 descreve situações como a mãe sendo rejeitada e perseguida pelo pai racista de uma amiga, além das privações e humilhações enfrentadas pela família. O trecho “trabalhou nove meses de barriga, descia a pé o beco da mina / trazer doação na pastoral” ilustra as dificuldades extremas vividas por sua mãe. Já em “filho do ex-presidiário? Normal”, o artista mostra como a marginalização é naturalizada no ambiente em que cresceu. A repetição de padrões de abuso e abandono evidencia a dificuldade de romper com esses ciclos negativos.

Apesar dos sentimentos de revolta, tristeza e resignação, a música também traz resistência. DK47 assume o controle de sua própria história ao afirmar: “Esse filme foi eu mermo que atuei / Essa cena eu mermo que dirigi”. Ele deixa claro que sua trajetória é marcada por escolhas e consequências reais, sem espaço para fantasias de superação fácil. Ao compartilhar sua vivência de forma tão direta, DK47 transforma sua experiência pessoal em um retrato coletivo das dores e desafios enfrentados por muitos nas periferias brasileiras.