Talvez Eu Seja

“Talvez Eu Seja”: maturidade, afeto e escolhas reais

Em “Talvez Eu Seja”, do Dmn, os interlúdios viram a chave e cravam que sensibilidade vale mais que grana e status. Lançada no álbum Essa é a Cena (2003), a faixa expõe o narrador entre o contexto da quebrada e a responsabilidade pessoal. Ele se vê “só mais uma vítima do destino”, mas assume as consequências: “Antecipei minha sentença, meu juízo, meu fim”. A música percorre a sedução da ostentação (“Deixei que a ostentação tomasse conta de mim”), o código da rua (“Lei da sobrevivência, se mata ou morre”) e a sensação de cárcere (“um pássaro na gaiola”), enquanto projeta um futuro em que ele possa ver o filho crescer. Quando fala em “aposentar minha PT”, usa gíria para pistola, sinal de vontade de largar o risco e garantir segurança em casa — leitura comum também nas discussões da web sobre priorizar uma vida confortável à família.

No bloco romântico, surge o arrependimento por não demonstrar amor: “Perdão, não tive o dom de expressar, me calei”. As memórias simples (“os rolês, o cinema, o sorvete”) ganham valor real, e o pedido “Vê se volta... meu futuro é sem sucesso” se conecta à virada ética: “De tudo que já tive, hoje nada importa mais a não ser você, a paz”. Esse trecho reforça a ideia de que afeto e presença valem mais que status.

A segunda metade marca a mudança de mentalidade. “Vento forte que antecipa o temporal” e “Tô respirando, Jhow, o ar é tudo” trocam ambição vazia por sobrevivência com propósito. As imagens da família — “o beijo do meu filho”, “o sorriso da minha mãe... macarrão, frango frito, os irmãos todos unidos” — celebram o cotidiano. A lição final é direta: “Paz está muito mais na cabeça, nos atos” e “Mudar o mundo por quê, se eu não mudar meu próprio passo?”. O caminho proposto: sensibilidade, carinho e amor como prioridade para romper o ciclo e construir o futuro desejado.