Pelo Telefone

Crítica social e irreverência em "Pelo Telefone" de Donga

"Pelo Telefone", de Donga, é um marco do samba brasileiro e traz uma crítica bem-humorada à relação entre autoridades e jogos de azar no Rio de Janeiro do início do século XX. O verso sobre o "chefe da polícia" avisando sobre a roleta na Carioca expõe, de forma sutil e satírica, a cumplicidade das autoridades com práticas ilegais, o que gerou polêmica na época e levou a mudanças na letra para evitar conflitos com o poder público. Esse tom de sátira leve se espalha por toda a música, que retrata o cotidiano carioca com referências à malandragem, ao carnaval e à vida boêmia.

A letra incentiva a alegria e a despreocupação, como em "É deixar mágoas pra trás, ó rapaz" e "Faça alegre o rosto, nada de desgosto". O samba aparece como um remédio para as tristezas e um convite à celebração coletiva, especialmente durante o carnaval, reforçado pelo verso "Viva o nosso carnaval sem rival". As metáforas com animais, como "Ai se a rolinha... nunca sambou" e "O peru me disse / Se o morcego visse", dão um tom lúdico e popular, típico das rodas de samba, e podem ser entendidas como brincadeiras ou alusões à esperteza e aos jogos de sedução e azar. A música também aborda a malandragem amorosa, ironizando quem "tira amores dos outros" e sugerindo, com humor, que se isso fosse punido, "o mundo estava vazio e o inferno habitado". Assim, "Pelo Telefone" não só lançou o samba como gênero popular, mas também estabeleceu o espírito irreverente e festivo que marcaria o carnaval carioca e a música brasileira.