
Mãe (Barriga de Fora)
Dorgival Dantas
Mãe, por que não me deixaste a vida inteira
Colando o umbigo, de castigo na soleira
Roendo unha e falando palavrão
Mãe, eu tava me esfregando com urtiga
Esmagando crânios de formiga
Com pau de sorvete esburaquei o chão
Mãe, por que não me deixaste a vida inteira
Esperando a hora da senhora vir da feira
Pra mandar o medo ir lamber sabão
Ô mãe, eu acho que engoli um parafuso
O mundo todo anda tão confuso
Eu queria tanto a tua mão
Mãe, vê se me desculpa a choradeira
Mas é que foi no melhor da brincadeira
Que a senhora me mandou crescer
Mãe, hoje já não deixo o nariz sujo
Já não coleciono caramujo
Mas ainda preciso de você
Mãe, por que ficaste assim a vida inteira
Cuidando pra que eu não batesse a moleira
Se era pra apanhar da vida, então
Mãe, por que a gente ainda se utiliza
De limpar os sonhos das mangas da camisa
De cortar os pés nos cacos de ilusão
Mãe, mandaste que eu não tomasse gelado
Me ensinaste a não ser mal educada
Me levaste à escola pela mão
Ô mãe, cuidaste bem da minha catapora
Hoje sou uma menina, e agora
Posso seguir o meu coração...
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