Voo 1360

Afirmação negra e autoconhecimento em “Voo 1360” de Duquesa

Em “Voo 1360”, Duquesa utiliza o ritmo house não apenas como escolha musical, mas como um posicionamento político e cultural. Ao adotar um gênero historicamente ligado à cultura preta, ela questiona a elitização da música eletrônica no Brasil e reivindica espaço para artistas negros nesse cenário. Esse contexto amplia o significado da faixa, especialmente quando a artista aborda temas como deslocamento e busca por pertencimento, evidentes em versos como “Madrugada tende ser mais fria, o meu voo é o 1360 / Sempre tô cansada e o cansaço é culpado de acabar com ego”. Aqui, a sensação de estar em trânsito se mistura à resistência e à afirmação da identidade negra.

A letra também explora o autoconhecimento e a transformação pessoal. Trechos como “Ainda me sinto a mesma / Com novo jeito, novo medo, outro cabelo, um novo saldo” mostram mudanças internas e externas, enquanto o voo 1360 funciona como metáfora para jornadas físicas e emocionais. O pedido “Me deixe um pouco só, só não esqueça de mim” revela a necessidade de espaço para processar dores e conquistas, sem perder o vínculo com pessoas importantes. Ao afirmar “Eu não peço, eu mando / Eu não espero, eu pego”, Duquesa destaca sua autonomia diante das adversidades. Já a repetição de “Eu não amo fácil” expõe sua vulnerabilidade, equilibrando força e sensibilidade ao longo da música.