Gorof (Elixir)

“Gorof (Elixir)” como cura afetiva, abrigo e presença

Em “Gorof (Elixir)”, do Dur Dur Band, o “elixir” é mais que paixão: é acolhimento, compreensão e descanso. A sequência de súplicas “Ha i gees marin, ila garo / Ha i gawdhine… ii garaab” (não me deixe de lado, entenda-me / não me afaste, tenha compaixão) transforma a canção num pedido sereno por abrigo emocional. A letra nasce da insônia e do desamparo: “Haddii aan gami waayo habeenkii / Haddaan gabban waayo hadhwalba” (se não consigo dormir à noite / se não encontro abrigo à sombra) e o sentimento de errância em “cidlada gaaf wareegaayee” (vago na solidão) revelam a ferida de quem foi isolado. O trecho “Sidii… dhawaaqoo” (como um brado rítmico) funciona como chamado insistente, reforçando a urgência por cuidado. O “gorof” entra como antídoto coletivo: “Aan soo godlee gorofka keen” (vamos buscar o elixir) e “Si aan… galbis ugu samaynoo” (para que a gente caminhe junto) apontam para cura na companhia, não num milagre individual.

O contexto da Mogadíscio vibrante dos anos 1980, com Sahra Dawo à frente e um som que costura funk/disco/soul à tradição oral somali, amplia essas camadas. “Gorof” pode ser lido literalmente como elixir/tônico culturalmente reconhecível e, por metáfora, como amor que abriga, compreensão que aquieta a noite e o próprio groove como bálsamo coletivo. Assim, o pedido “não me afaste, entenda-me” também é social: não excluir alguém do círculo é oferecer o remédio da presença. Resgatada na coletânea “Sweet as Broken Dates: Lost Somali Tapes from the Horn of Africa” (2017), a faixa guarda a efervescência cultural daquele tempo e reafirma um princípio simples: quando o amor vira noite em claro, o elixir é ser recebido, acompanhado e ouvido.