Cypher Dversos II

Identidade periférica e crítica social em “Cypher Dversos II”

“Cypher Dversos II”, do DV Tribo, destaca-se por transformar a vivência coletiva das periferias de Belo Horizonte em versos que unem denúncia social, orgulho de origem e crítica direta ao sistema. A música alterna entre celebrar a identidade marginalizada e expor as contradições do capitalismo. Um exemplo disso aparece quando FBC diz: “Dinheiro foi nossa justiça, agora queremos vingança”, mostrando que a busca por justiça social se transforma em desejo de reparação diante das desigualdades históricas. Ao citar bairros periféricos como “Cabana e São Bené, Palmital e São José, Cafezal e Sumaré”, o grupo reforça o sentimento de pertencimento e resistência territorial. Referências a figuras midiáticas, como Luciano Huck e a Globo, evidenciam o desejo de ocupar espaços tradicionalmente negados à periferia.

O contexto do DV Tribo, coletivo reconhecido por sua postura crítica e por dar voz às comunidades marginalizadas, aparece em cada verso. A precariedade dos serviços públicos é denunciada em “Essa porra dessa UPA tá falida igual uma escola”, enquanto a ironia sobre o papel das igrejas e do consumo surge em “Um monte de igreja pra me lembrar o quanto eu peco”. Metáforas como “quilos de ideias” e “traficar informação” (Sombra) subvertem o estigma do tráfico, mostrando que o verdadeiro poder está no conhecimento e na criatividade. O refrão de Cachorro Magro, “Se dinheiro é maldição, ele cospe sangue; dinheiro é a solução, então chumbo cospe e ele cospe grande”, resume a ambiguidade do dinheiro nas quebradas: é fonte de sofrimento, mas também a única saída para muitos. Assim, a música constrói uma narrativa de luta, sobrevivência e esperança, sem romantizar a dureza da vida nas margens, mas valorizando a potência transformadora da arte e da coletividade.