Revelação

“Revelação” como denúncia, cura e horizonte de liberdade

“As mentiras da escola / Embrulhei e foi pro lixo” não é simples revolta estudantil; é a recusa da narrativa oficial e o ponto de partida de um manifesto de desvelamento. “Revelação” transforma memória e descarte em gesto político, coerente com o reggae de consciência social de Edson Gomes e com o clima combativo do álbum Campo de Batalha (1992). A repetição “Pra revelar… / Pra contestar” explicita a missão da canção: denunciar o discurso vazio — “Sobre o que estão falando / São apenas as palavras” — e enfrentar a violência concreta — “Nossas ruas ensanguentadas / Nossas almas contristadas”. Esse retrato dialoga com as desigualdades que o artista sempre abordou, ancorado nas lutas negras em Salvador nos anos 80 — destacadas em obras que revisitam sua trajetória —, o que ajuda a entender a desilusão com propostas institucionais: “Sobre o que estão propondo / Não espero coisa alguma”.

No plano da cura, a música aposta numa “palavra mágica”: amor. “Pra consertar é preciso amor / Pra restaurar é preciso amor” funciona como princípio ético e antídoto à barbárie, abrindo espaço para a expectativa de libertação. A figura do “homem santo” pode ser lida de duas formas complementares: como imagem espiritual/messiânica do imaginário do reggae — um enviado que “retoma das mãos do maligno” — e como metáfora de uma liderança coletiva ou consciência desperta que recupera o que foi destruído (dignidade, direitos, comunidade). O refrão em mantra — “Pra retomar… / Vem recuperar… / E libertar” — intensifica o arco emocional: da contestação e dor à esperança ativa. A narrativa se organiza em quatro movimentos claros: rejeição da mentira, exposição da ferida social, amor como método e anúncio de libertação.