Quem dá Mais

Crítica à mercantilização cultural em “Quem dá Mais”

“Quem dá Mais”, de Eduardo Dusek, usa o formato de um leilão para ironizar a comercialização de símbolos culturais e sociais do Brasil. Logo no início, a oferta de uma “mulata que é diplomada em matéria de samba e de batucada” brinca com estereótipos e a objetificação da mulher negra, ao mesmo tempo em que satiriza como atributos culturais e físicos são transformados em mercadoria. O uso de lances em réis, moeda antiga, reforça o tom de distanciamento e absurdo da situação.

A letra segue leiloando um violão “que só não tem braço, fundo e cavalete”, supostamente pertencente a figuras históricas como Dom Pedro e José Bonifácio. Isso evidencia a tendência de valorizar objetos apenas por sua ligação com o passado, mesmo que estejam deteriorados. O verso “Quem arremata o lote é um judeu / Quem garante sou eu / Pra vendê-lo pelo dobro no museu” faz uma crítica sutil à especulação e ao comércio, além de refletir o humor ácido de Noel Rosa, que inspira Dusek.

No final, o leilão chega ao ápice ao vender um samba “feito nas regras da arte”, mas que “só tem estribilho” e “exprime dois terços do Rio de Janeiro”, ironizando a simplificação e a venda da própria cultura popular. A pergunta sobre quanto ganha o leiloeiro “que é também brasileiro / E em três lotes vendeu o Brasil inteiro” resume a crítica à exploração e à venda do patrimônio nacional, tudo com o humor característico de Dusek.