Eu, Monstro

Resistência e libertação feminina em "Eu, Monstro"

"Eu, Monstro", de Ekena, transforma a figura do monstro em símbolo de resistência e autolibertação, invertendo a ideia tradicional de que ser "monstruosa" é algo negativo. Logo no início, a letra destaca a coletividade da experiência feminina ao afirmar: "dentro do meu corpo mora Ana, a Joana, a Maria, a Isabela". Isso evidencia como as mulheres compartilham uma herança de culpa e silenciamento, resultado de uma sociedade opressora. O verso "abaixa a cabeça, cala a boca e espera" reforça esse histórico de repressão, enquanto a expressão "arrepio na vertebral" mostra o impacto físico e emocional desse controle.

A música adota um tom confessional e crítico ao abordar temas como sexualidade, dor e autossuperação. O trecho "eu aprendi desde cedo que mesmo morno eu devia gozar alto pra satisfazer o silêncio entre nós" revela a pressão para corresponder a expectativas externas, mesmo à custa do próprio prazer e autenticidade. Já o verso "tudo que sangra, fere e corta a alma, dilacerada num amargo sem fim" faz referência ao sofrimento feminino causado por normas sociais restritivas. Ao repetir "eu tô me libertando aos poucos de mim", Ekena sugere que a libertação passa por desconstruir as próprias amarras internas, criadas pela opressão. A crítica direta à sociedade aparece em "de merda e louca que criaram pra te dizer que mulher não pode gozar nem ter prazer", assumindo um posicionamento feminista e denunciando a repressão do desejo feminino. A repetição de "eu vou desaparecer" pode ser entendida como o desejo de sumir das expectativas impostas, mas também como a vontade de apagar a versão submissa de si mesma, abrindo espaço para uma identidade mais livre. A mistura de rock e hip-hop reforça a força e a urgência da mensagem, tornando "Eu, Monstro" um manifesto de libertação pessoal e coletiva diante da opressão de gênero.