El Chamuko V2

Violência e identidade narco em “El Chamuko V2” de El Makabelico

A música “El Chamuko V2”, de El Makabelico (El Comando Exclusivo), vai além da ostentação típica do narcotráfico ao criar uma identidade quase mítica para o narrador. Ele se apresenta como “Chamuko”, termo que significa “diabo”, e assume o papel de líder da “tropa do inferno”. Esse apelido não é apenas uma bravata, mas uma metáfora direta para sua função de agente do medo e do caos, reforçada por versos como “Yo soy Lucifer takatatan” (Eu sou Lúcifer takatatan) e “Diles que soy el puto diablo cuando al 100 me miran” (Diga a eles que eu sou o maldito diabo quando me veem a todo vapor). O contexto externo mostra que El Makabelico utiliza essa persona para exaltar o Cartel del Noreste (CDN), grupo ao qual é publicamente associado e que, segundo investigações, recebe parte dos lucros de suas músicas.

A letra mistura referências explícitas à violência armada — “Una 5-7 su corta / Te la deja caer en la chompa” (Uma 5-7 curta / Ela acerta sua cabeça) e “Un M16 de cargadores tengo un acordeón” (Um M16 com carregadores, tenho um acordeão) — com símbolos de status e luxo, como “diamantes en mi brazo” (diamantes no meu braço), “mi ropa ya es de París” (minhas roupas já são de Paris) e festas extravagantes. O desprezo pelo governo e pelas forças militares aparece em frases como “Seguido me reta el gobierno pero por el aire si no vuelo yo” (O governo sempre me desafia, mas pelo ar, se não sou eu quem voa) e “Topones de frente con militares” (Confrontos diretos com militares), mostrando uma postura de desafio e superioridade. Ao mesmo tempo, a letra reconhece os riscos desse estilo de vida: “Pues de morir no tengo miedo” (Não tenho medo de morrer) e “recordando a los que / Araya se murieron en batalla” (lembrando dos que morreram em batalha) deixam claro que a morte é uma presença constante, encarada com frieza e até orgulho. O termo “tropa del infierno” reforça tanto a brutalidade do grupo quanto a ideia de que, para o narrador, o inferno é o cotidiano, onde violência, luxo e lealdade ao cartel se misturam sem espaço para arrependimento.