A Pergunta (do "O Tropeiro Gonsalin")

A Pergunta: Um Lamento Sertanejo

A música 'A Pergunta (do 'O Tropeiro Gonsalin')' de Elomar Figueira Melo é uma obra que mergulha profundamente na realidade do sertão nordestino, abordando temas de escassez, migração e a luta pela sobrevivência. A letra é um diálogo entre dois irmãos, onde um deles, Quilimero, é questionado sobre a situação de sua terra natal. A canção começa com uma saudação e uma pergunta sobre a fartura, que é um tema recorrente nas canções sertanejas, mas logo se revela um cenário de desolação e abandono.

A letra descreve a seca implacável que assola a região, com rios secando e a terra se tornando estéril. As pessoas e os animais, incapazes de sobreviver, são forçados a migrar ou sucumbir à fome. A menção de 'cumê tudo' e 'cumêr' precata surrão' ilustra a extrema necessidade que leva os habitantes a consumir até mesmo o que normalmente seria descartado. A imagem das cacimbas (poços artesianos) que já cavaram mais de duas covas de um cristão é uma metáfora poderosa para a morte e o desespero que permeiam a vida no sertão.

A música também aborda a questão da fé e da esperança. O narrador questiona se, ao retornar à sua terra, encontrará algo que ainda lhe pertença ou se Deus se esqueceu de seu povo. A repetição do refrão 'Na catinga morreu tudo, qui nem percisô caxão' reforça a ideia de uma terra devastada, onde até a morte se tornou uma rotina sem cerimônia. A figura do 'cumpadre João Barbudo' que não cumpriu sua obrigação pode ser vista como uma crítica àqueles que deveriam ajudar, mas falharam em sua responsabilidade. A canção é um retrato doloroso e poético da vida no sertão, onde a luta pela sobrevivência é constante e a esperança é uma chama tênue que teima em não se apagar.