Ooorra

Ausência paterna e superação em "Ooorra" de Emicida

Em "Ooorra", Emicida aborda de forma direta a dor causada pela ausência do pai e a dificuldade de lidar com sentimentos de vulnerabilidade. Ao relatar a inveja ao ver pais brincando com filhos no parque, ele revela um incômodo pouco discutido: o impacto emocional de crescer sem uma figura paterna presente. O verso “Arrasta a cartolina com papel crepom / Amassa, joga no lixo: Porra, pior que esse aqui tava bom” transforma uma lembrança simples da infância em símbolo da frustração e do vazio deixado por essa ausência.

A música segue com um tom de desabafo, trazendo à tona as adversidades enfrentadas por Emicida, como fome, violência, solidão e a luta constante pela sobrevivência. O trecho “Eu já passei fome, já apanhei calado / Já me senti sozinho, já perdi uns aliado” resume os desafios recorrentes que moldaram sua identidade. Emicida também destaca o esforço da mãe solteira, que “tinha que trabalhar pra ter o que comer / Não ver seu filho aprende a falar, essa porra deve doer”, reconhecendo a dor silenciosa e a força necessária para seguir em frente diante da miséria e do preconceito.

No final, Emicida mostra que encontrou na rima um refúgio e uma forma de transformação: “E o que eu sempre tive foi minha rima / O resto se foi tipo trampo, amigo, mina”. Ele admite que nunca sonhou em viver de rap, mas a música se tornou sua alternativa para não sucumbir ao crime e à desesperança. "Ooorra" é um relato honesto sobre superação, onde cada dificuldade enfrentada vira combustível para seguir adiante, sem romantizar a dor, mas também sem se render a ela.