Alfred’s Theme

“Alfred’s Theme” como thriller rap de humor negro ácido

Eminem transforma a faixa em um suspense à la Hitchcock: o sample do tema de Alfred Hitchcock Presents, composto por Charles Gounod, vira trilha para uma matança metalinguística. Ele mesmo dá a senha em “So throw on the theme to Alfred, I’ll channel him like the Panama Canal” (Então põe o tema do Alfred, vou canalizá‑lo como o Canal do Panamá), brincando com “channel”/canal e com a persona do diretor. O clipe dobra a aposta ao homenagear Vertigo, Psycho, The Birds e Rear Window, enquanto rimas sangrentas sustentam o clima e o duplo sentido de “every cut from this album” (cada corte/faixa deste álbum). A meta é reafirmar domínio e continuidade do conceito: “It’s Music to Be Murdered By again, why stop?” (É o Music to Be Murdered By de novo, por que parar?).

A letra é um laboratório de trocadilhos que alimentam a egotrip. Ele rebate o papo de estar “lavado” com “potty mouth… not about to wash it out” (boca suja... não vou lavar isso) e “if cleanliness is next to godliness… it’s impossible for me to be beside myself” (se a limpeza está perto da santidade... é impossível eu estar ao lado de mim), torcendo o idiom “be beside myself” (fora de si). Lucro e lixo se misturam em “I still get the bag when I’m putting garbage out” (eu ainda pego a grana quando estou pondo o lixo pra fora). O pano de fundo é 2020: “Coronavirus in effect tonight” (o coronavírus está em ação hoje à noite) e ele canta “Happy birthday” (feliz aniversário) lavando as mãos, citando as diretrizes dos 20 segundos. As referências pop viram troféus e piscadas: “Giving nightmares to Billie Eilish” (dando pesadelos à Billie Eilish) ecoa a fala dela em 2019; e “call me Santa Claus… at the present” (me chame de Papai Noel... no presente) renova o humor negro. No conjunto, “Alfred’s Theme” encena um thriller onde críticas e rivais são abatidos com cortes sonoros e precisão técnica.