Cabelo Cacheado

Afeto e desejo em “Cabelo Cacheado”, de Enry Sanches

Em “Cabelo Cacheado”, Enry Sanches transforma um elogio aos cachos em mapa afetivo do relacionamento. O cabelo funciona como fio que liga paz, desejo e rotina a dois. A imagem “a perfeita junção do samba com a percussão” sintetiza a química do casal e ancora a faixa no pagode, aqui em arranjo acústico, destacado nas informações do lançamento, que dá tom íntimo e confessional. Ele canta para a parceira, proclamando devoção (“meu ponto de paz”, “personagem principal da minha história”) e disponibilidade (“é só você falar que eu volto, eu juro”), construindo a ideia de um amor seguro, cotidiano e também físico. O EP “Love Sanches - Vol 1” e a produção de Lincoln De Lima reforçam essa proximidade, combinando com a estética mais crua do violão e com o romantismo do pagode.

As cenas são diretas e eficazes. “Quando você chega arrumando o cabelo, sorrisinho de lado” flagra um gesto diário que aciona o jogo de sedução; na sequência, “vou bagunçar ele inteiro” dá o duplo sentido carinhoso e levemente erótico, intensificado por “com você é toda hora” e “fica pedindo pra eu não parar”. “Você é como vinho” sugere amadurecimento do desejo e do afeto, enquanto detalhes de cuidado, como “me liga perguntando se eu cheguei bem”, mantêm o romance próximo da vida real. A exaltação do “cabelo cacheado” celebra a singularidade dos cachos, marca de identidade e autoestima em muitas culturas, e espelha a admiração que atravessa a letra. No conjunto, a música equilibra ternura e sensualidade com o balanço do pagode, contando uma história de amor que é corpo e ritmo, aconchego e plano de futuro.