Family Tree

Religião e violência familiar em "Family Tree" de Ethel Cain

Em "Family Tree", Ethel Cain aborda o impacto do trauma familiar e da religiosidade opressora na formação da identidade. A artista utiliza símbolos religiosos para mostrar como a violência e o sofrimento são transmitidos de geração em geração. O verso “crosses all over my body” (“cruzes por todo o meu corpo”) representa as marcas visíveis dos pecados e dores herdados, enquanto a gravação do pregador reforça a ideia de que a herança familiar é inevitável e profundamente enraizada.

A influência dos pais na normalização da violência aparece claramente em versos como “My mama raised me better than that” (“Minha mãe me criou melhor do que isso”) e “Daddy said shoot first then run and don't look back” (“Papai disse para atirar primeiro, depois correr e não olhar para trás”). Esses trechos mostram como a protagonista foi ensinada a conviver com a violência, mesmo sob uma fachada religiosa. O desejo de purificação surge em “take me down to the river and bathe me clean” (“me leve até o rio e me lave”), evocando o batismo como tentativa de renovação, mas também como fuga do passado. Ao afirmar “I've killed before and I'll kill again” (“Já matei antes e vou matar de novo”), a música evidencia o ciclo repetitivo do trauma. Já “Let Christ forgive these bones I've been hiding / And the bones I'm about to leave” (“Que Cristo perdoe esses ossos que venho escondendo / E os ossos que estou prestes a deixar”) revela a busca por perdão, mesmo diante da possibilidade de novos erros. O clima sombrio da produção reforça a sensação de peso e inevitabilidade, tornando "Family Tree" um retrato direto das marcas deixadas por uma herança familiar dolorosa.