Don't Ask Me Why

“Don't Ask Me Why”: fim sem volta e limites claros

“Don't Ask Me Why”, do Eurythmics, encena um acerto de contas sem rodeios. A revelação dura aparece já em “I don’t think I ever did (acho que nunca amei você)”, que transforma o término em constatação tardia: talvez o vínculo nunca existiu. A volta do outro, carregando problemas, encontra uma barreira nítida em “Don’t ask me why (não me pergunte por quê)”, enquanto “Why? (por quê?)” marca a insistência por justificativas que a narradora não dará. A culpa é devolvida ao interlocutor em “You spoiled the best years of your life (você estragou os melhores anos da sua vida)”. O léxico religioso surge com ironia — “Miracle of miracles (milagre dos milagres)” e “forgiven (perdoado)” — para, em seguida, negar qualquer reset: “You can’t be born again (você não pode renascer)”. No refrão, a negação do presente e do passado fecha a porta: “I don’t love you anymore / I don’t think I ever did (não te amo mais / acho que nunca amei você)”. Promessas e afetos ficaram escondidos, enquanto frustrações se acumularam à vista, inviabilizando a confiança.

O contraste entre forma e conteúdo reforça o amargor: o acabamento pop sofisticado, com elementos acústicos e orquestrais, dá brilho a uma mensagem cortante — sinal de uma fase mais madura da dupla. No clipe dirigido por Sophie Muller, as cores saturadas e a atmosfera de pista lembram o verniz estiloso à la “Veludo Azul”, ampliando a tensão entre aparência e desgaste emocional. Tudo parece reluzente, mas é fachada para sentimentos já esvaziados.