Pindorama

Identidade e resistência em "Pindorama" de Fabio Brazza

Em "Pindorama", Fabio Brazza propõe uma reflexão sobre a identidade brasileira ao resgatar o nome original do território antes da colonização. O título já indica a intenção de valorizar as raízes indígenas e questionar a narrativa oficial da história do Brasil. Logo no início, o artista destaca a presença dos povos originários e africanos, como em “E antes de ter Português já tinha Guarani, aqui”, e lembra que elementos centrais da cultura nacional, como o samba, têm origens africanas: “não veio de lá, de lá”, referindo-se a Angola e Congo. O refrão “Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega / Mas tudo o que é do Brasil não se pode o Brasil negar” resume a ideia de que a cultura brasileira é formada por diversas influências e que negar essas origens é negar a própria identidade do país.

A letra adota um tom crítico ao abordar injustiças históricas, como a escravidão e o racismo estrutural, em versos como “Tá vendo o chicote que estrala” e “Vi o capitão do mato matar mulato na marra”. Ao mesmo tempo, exalta a resistência dos povos oprimidos, mostrando que a arte e a cultura são formas de sobrevivência: “a arte é a prova de bala”. Referências ao mestre-sala, ao jongo e à mandinga reforçam a força da herança africana. A crítica social se estende ao presente, denunciando corrupção e desigualdade: “Mais uma vez é o povo que paga o pato / Lava mão e lava jato e o País vira uma farra”. No final, a música convoca à consciência e à ação, defendendo a importância de reconhecer o passado para transformar o presente e não aceitar passivamente as marcas da história.