Orfeu (part. Lucas Arruda)

Diálogo cultural e espiritual em “Orfeu (part. Lucas Arruda)”

"Orfeu (part. Lucas Arruda)", de Fabriccio, destaca-se por unir referências da mitologia grega e da religiosidade afro-brasileira, criando um encontro raro e harmônico entre essas culturas. O título e o refrão remetem a Orfeu, o músico mítico que transforma realidades com sua arte, enquanto a letra faz menção direta a Oxum, Oxalá e Exu, divindades do candomblé e da umbanda. Essas referências evidenciam a influência da ancestralidade africana na identidade do artista.

O verso “Seu rio não deu pé pra mim / E eu nadei na beira” sugere uma busca por conexão espiritual ou afetiva com Oxum, orixá das águas doces, mas que não se concretiza totalmente. Já “Pretendo voar por aí / Volto lá pela quarta-feira” transmite leveza e liberdade, reforçando um tom introspectivo e desapegado. O refrão “E eu vim pra viver tipo Orfeu / Tocar minha viola pro Sol levantar” associa o poder da música à renovação e esperança, enquanto “Levando no peito a guia de Oxalá” revela proteção espiritual. O trecho “Meu canto é cavalo dos meus / Riscando o ponto de Exu na sua sala de estar” traz um duplo sentido: "cavalo" é quem incorpora entidades nos rituais, e "riscando o ponto" marca o início de trabalhos espirituais, mostrando que a música de Fabriccio é um canal de ancestralidade e espiritualidade no cotidiano. A participação de Lucas Arruda, que mistura ritmos brasileiros e eletrônicos, reforça essa fusão de tradição e modernidade, tornando "Orfeu" uma celebração da diversidade cultural e espiritual brasileira.