exibições de letras 24.458

Sonhei Com o Céu

Facção Central

LetraSignificado

    Hoje o ar que cheira á sangue amanheceu diferente;
    Não me parece um dia comum, de tiro, velório, felizmente;
    Eu não ouvi os boatos da noite que passou;
    Será que ninguém morreu, ninguém matou, ninguém matou;
    Olha o caderno na mão, tem uma tático ali;
    Tem segurança pras crianças indo pra escola;
    Estudar é tão bom quanto á morte não estar aqui;
    Cadê o mano que trafica perto do portão;
    Cadê o copo de água mineral;
    O vestígio das pedras nesse horário sempre tem, só que hoje não;
    Caranga cinza fico com medo, será que algo vai acontecer;
    No abaixar dos vidros eu já imagino os tiros;
    Eu tenho quase certeza que alguém irá morrer;
    Será que é outro enquadro ou só outro cadáver;
    Qual que é desses canalhas, por incrível que pareça vieram em paz;
    Não apertaram o gatilho, não terminou na bala;
    Essa foi de três pontos e da outro lado que golaço;
    Quadra lotada, esporte na mente, caixão adiado;
    A oficina do diabo está ocupada;
    Nos deram boa escola, um centro recreativo;
    Conjuntos habitacionais, a nossa gente é sempre lembrada;
    Parabéns brasil pela campanha contra o álcool, aids, contra as drogas;
    Recuperação em massa do fundo do posso agora tem sua cota;
    Não tem ninguém algemado, a pt está descarregada;
    Tem rango digno no prato, olha o sorriso da tia que passa;
    A sacola é pesada, o suor escorre pela cara;
    Mas o semblante é feliz de quem venceu pelo menos hoje;
    De quem levou comida pra casa;
    Não tem ninguém de roupa imundo e feridas no corpo passando fome;
    Não tem ninguém desempregado metendo os canos;
    Não tem ninguém derrubando ninguém;
    Nem a de vinte que passou pro iml não mandou ninguém;
    Pagode, discurso, cerveja na mesa;
    Descontração por alguns minutos;
    Cenário de sangue na batida do pandeiro, treta, caixão, defunto;
    Infelizmente pro demônio hoje não tem velório;
    O anjo protetor nos protegeu;
    Nos livrou do atestado de óbito;
    Nenhuma pedra foi derretida;
    Nenhuma grama de cocaína foi consumida;
    Aqui se valoriza a vida, se incentiva;
    Existe sempre um caminho ou uma alternativa;
    Que cheiro de carniça vem lá da esquina, deve ter defunto;
    Ouço o som da sirene, não tenho dúvida;
    Mais um fulano no túmulo;
    Até parece que deus está por aqui;
    Não tem finado nenhum, incomum, sem crack, sem polícia;
    Não é preciso fugir;
    E de repente um barulho de despertados me acordou;
    Infelizmente tudo o que eu vi;
    Não passou de um sonho que passou;
    Estou de volta ao inferno;
    Ao enterro, polícia, crack, tiro, papel;
    Fechei os olhos e sonhei com a paz;
    Fechei os olhos e sonhei com o céu.

    Fechei os olhos e sonhei com o céu;
    Do inferno eu vi a paz;
    O sangue lá não escorre pelo chão;
    Não existe cadáver, não se enterra caixão;
    Sonhei com o céu, sonhei com o céu;
    Sonhei com o céu.

    Tem um corpo se decompondo ali no meio do mato;
    Entre mosquitos e sangue um pequeno finado;
    Daqui á pouco cola a mãe e os familiares;
    Tem uma vela, algumas piadas, alguns populares;
    As lágrimas demonstram o universo contraditório;
    Muita tristeza para uns, pra outros alegria, é velório;
    Esse corpo vem da casa de madeira ou papelão;
    Com luz roubada, sem conforto, segurança, sem opção;
    Esse corpo vem da mesa que sempre tem comida quase de cachorro;
    Que sempre tem migalhas tem tristezas;
    É outro filho de uma mãe que teve cinco, seis, sete filhos;
    Que criou alguns no cemitério e outros no presídio;
    Foi outro mano que sonhou com roupas caras, boas, um tênis importado;
    Ambição insignificante pro mundo, pra polícia motivo pra ser fuzilado;
    Um outro enterro onde se chora em dobro;
    A morte do fulano, aquela merda onde está o corpo;
    Sem flores um indigente irreconhecível que se vai;
    Sem valor, sem orgulho, só a dor da mãe e do pai;
    Infelizmente é a morte, padrão dos pobres;
    Anoiteceu bum, de qualquer meio do mato;
    Qualquer quebrada o sangue escorre;
    Quantos de nós sentiremos o inferno na pele;
    Um corpo com jornal, indigente no iml;
    Uma sepultura abandonada;
    Que nunca recebeu sequer uma flor;
    Que nunca recebeu uma visita;
    Um oração, um gesto de amor;
    Quando não se sonha paz se torna impossível;
    Viver no nosso mundo é foda, é suicídio;
    Um outro homicídio em questão de horas;
    Uma tático que passa é outra mãe que chora;
    Das profundezas do inferno quero sonhar com a paz;
    Esquecer toda essa porra de polícia, homicídio, droga;
    Fechar os olhos e sonhar com o céu;
    Fechar os olhos e esquecer que a esperança já está morta;
    Sonhei com o céu.

    (2x) fechei os olhos e sonhei com o céu;
    Do inferno eu vi a paz;
    O sangue lá não escorre pelo chão;
    Não existe cadáver, não se enterra caixão;
    Sonhei com o céu, sonhei com o céu;
    Sonhei com o céu.


    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Facção Central e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção