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Enterro de Um Santo

Facção Central

LetraSignificado

    Aí, gambé Saca logo esse oitão e me mata
    O demônio é meu guia, a Glock é minha arma
    O sangue do playboy é meu veneno que escorre
    Seu filho é o refém que eu mato pelo cofre
    Eu sou o pulso algemado, o homem na cela do X
    Que reivindica, que mata o carcereiro com uma faca, que te faz feliz
    Que engatilha um oitão na cara da piranha no sinal
    Que no estalo de dedos, pá tá no Instituto Médico Legal
    Servindo o corpo pro cuzão da faculdade de medicina
    Olha o corpo de ladrão, é promoção no cartão
    Ou no cheque pra 30 dias
    Dá risada, empresário executivo do caralho
    Tira a blindagem da Mercedes e é amém e é caixão lacrado, hé
    Tira a bunda da cadeira do escritório
    E o favelado que não é problema seu
    Estupra tua mulher, antecipa o teu velório
    É isso aí, bate palma pro meu prato vazio
    Cospe na mão que te pede esmola
    E é corpo boiando na beira do rio

    Pode atirar, e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
    Cansei de ser um pobre inútil, homem favelado
    Agora eu sou o ladrão, que com o revólver na mão
    Deixa sua cabeça em pedaços
    Queria leite pro neném, comida na panela, um caderno pra escola
    Me deram uma semi-automática, 13 tiros no pente
    Então que Deus ilumine a minha nova trajetória
    Não sonho mais com seu emprego, não quero a sua merda de esmola
    Vou atirar no seu peito, playboy, pra roubar sua joia
    Vou enquadrar sua Mercedes, te amarrar e jogar fogo, morou?
    Te apresentar o santo que a sua sociedade enterrou

    Pode atirar, e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
    Pode atirar, e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar

    Aí, gambé
    O ladrão aqui é só outro humilde brasileiro transformado em monstro, morou?

    Amanhã ou depois, o corpo embaixo do jornal vai ser o meu
    Na vela acesa, o fogo do inferno que o sistema acendeu
    No chão, o sangue que não emociona, que não dá Ibope
    Não dá TV, não dá jornal, não vem revista
    Que se foda o meu peito aberto com cinco de 9, hé
    Não tem repórter

    Só uma mulher chorando, com uma pá de filho
    Que no futuro estarão no mesmo lugar
    Se transformando em carniça, com vários tiros
    Porra, mano É foda, dói na alma
    Não dá pra ser santo vivendo como lixo, a fome mata a calma
    O que o olho vê, o coração sente
    É Natal, aniversário: Pai, cadê meu presente?
    Outro dia, o moleque deu risada
    Olha lá o maloqueiro, uma semana com a mesma calça
    Eu adianto meu velório, troco tiro, faço o necessário
    Pra não ver a minha filha se vendendo na esquina
    Ou meu filho trancafiado
    Do apê do hotel de luxo, é difícil entender
    Dá pra mandar se foder (pode crer)
    No mergulho de piscina, é fácil julgar: Ladrão tem que morrer
    Infelizmente, Deus não me deu carro, dólar, cobertura
    Eu só sou outro filho da puta
    Que traz o seu almoço do mercado embaixo da blusa, embaixo da blusa
    Aqui, a palavra da Bíblia não tem valor
    A minha crença são seis dentro do tambor
    Quando o oitão tiver na nuca do seu filho, não grita socorro
    Eu desconheço o que é dó, amor
    O monstro que você criou vai matar o cuzão igual se mata um cachorro
    Queria ser outro humilde brasileiro, mas cansei de sonhar
    Então, gambé, pode atirar, hé
    E atira pra matar

    Pode atirar, e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
    Pode atirar, e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar

    Aí, gambé
    Queria paz, mas me deram o crack e uma, 357

    Eu vou entrar na tua casa, no teu restaurante
    Eu vou matar sua mulher, pegar o vídeo da sua estante
    Eu vou roubar a sua joia, querer sua aliança
    Se não tiver dinheiro, eu corto a sua garganta
    É isso aí Fecha o vidro na cara do moleque, playboy
    Bate palma pro defunto que põe medalha no peito do gambé do GOE
    Tira médico, remédio do nosso hospital
    Tira o professor da escola, joga arma, crack, álcool, aí tá legal
    Joga um homem num barraco de dois metros quadrados, construído de madeirite
    Colchão de barro, luz na gambiarra, goteira na Brasilit

    O resultado jorra como sangue de defunto
    Cinquenta, sessenta no X do DP
    Polícia descarregando, tiazinha de luto
    Você de mão amarrada no porta-mala do seu Tempra 2. 0
    E alguém ligando pra sua casa
    Aí, piranha, seu marido vai morrer
    Eu quero tanto de resgate no sequestro
    É tomá lá, dá cá, no jogo do inferno
    Vai montar o seu palanque na puta que o pariu
    PMDB, PTB, vão se foder
    Acabou o show de marionete, ouviu?
    Sem ensino, alimento, saúde, moradia
    É revolver na mão, miolo voando e o santo sendo enterrado
    A cada segundo, cada minuto, todo dia
    Aí, gambé, dei meu motivo, a minha explicação
    Honra seu distintivo e mata logo outro humilde brasileiro
    Que a sua sociedade transformou em ladrão

    Pode atirar, e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
    Pode atirar e atira pra matar
    O santo foi com a oração que Deus não quis escutar

    Aí, gambé
    Não tem honestidade sem emprego com o filho morrendo de fome
    É foda


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