IRL

Dor, fama e vigilância em “IRL” de FattMack: amor e rua

“IRL” contrapõe a persona online às consequências fora da tela. Logo no trocadilho “I won so much shots on Insta… I got aim… in real life” (eu ganhei tantos shots no Insta... eu tenho mira... na vida real), “shots” vale como foto e como tiro. Termos como “Itching” (coçando) e “hard-ass pill to swallow” (pílula difícil de engolir) ativam duplos sentidos: fissura por pílulas e prontidão para o ataque, o remédio literal e a amargura do abandono. Ele anestesia a dor com “drank” (bebida com codeína) caro e 5 ou 6 pílulas por noite, mas repete “in real life” para expor a paranoia: “I don’t like anyone in the bed with me while I sleep” (não gosto de ninguém na cama comigo enquanto durmo), arma na cabeceira — “a 4.5” (uma .45) — e o gatilho pronto: “I’m gon’ blow it” (eu vou atirar). O clima de rua de Mobile, Alabama, sustenta o contraste entre ostentação (“designer scarfs”, “diamond grillz”) e trauma encoberto.

No centro emocional, ele admite: “I accepted the fact that you fell in love with a new man” (eu aceitei que você se apaixonou por outro), uma “hard-ass pill to swallow” (pílula difícil de engolir) que dialoga com a química dos remédios. Há desejo e perda — “visions of what we could be” (visões do que poderíamos ser) — e impulso autodestrutivo contido pela paternidade: “was finna slit my wrist… ’cause I gotta kid” (quase cortei meu pulso... porque tenho um filho). Ele mascara a dor: “covered it up with a smile in diamond grillz” (cobri isso com um sorriso de grillz de diamante). Limita o vínculo a encontros noturnos, sem pernoite, por estratégia e medo de traição — “she wanna be in my mentions” (ela quer estar nas minhas menções) — e assume a fragilidade: “hatin’-ass hoes… we never was” (vadias invejosas... nós nunca fomos). Desde 2020 até assinar com a Great Day Records e a Santa Anna, FattMack transforma vivências pessoais e sociais em crônica crua: luxo que camufla dor, fama medida em menções e força que, na vida real, cobra um preço.