Como Um Sonho Acordado

Medo e ancestralidade em “Como Um Sonho Acordado” de Fausto

“Como Um Sonho Acordado”, de Fausto, conduz o ouvinte por uma experiência intensa de medo e angústia, usando imagens marcantes para expressar sensações de perseguição e desespero. Logo no início, versos como “Como se a Terra corresse / Inteirinha atrás de mim” criam uma atmosfera sufocante, enquanto o medo é descrito de forma quase física, “escorrendo pegajoso” e penetrando “nos ossos”. Essa abordagem reforça o impacto emocional da música, tornando o medo algo palpável e presente.

A canção faz parte do álbum “Por Este Rio Acima”, conhecido por misturar tradição e modernidade. Isso aparece tanto na sonoridade quanto na letra, que une elementos do folclore português a uma visão introspectiva. Metáforas sombrias e temas tabus surgem em versos como “Desventrado por seu filho / Que possuiu lascivo / A sua própria mãe / E sua amante”, evocando tragédias familiares e referências a mitos clássicos, além de possíveis traumas coletivos. O medo retratado não é só individual, mas também carrega um peso ancestral e social, reforçado por menções a “carpideiras viúvas” e à figura de “Fernão Mendes”, que conecta o drama pessoal ao imaginário nacional. O pedido “Tenho medo ó medo / Leva tudo é tudo teu / Mas deixa-me ir” mostra a luta entre se entregar ao medo e buscar libertação, enquanto o apelo à amada para “afastar essas vozes” revela a busca por consolo diante do terror existencial. A música permanece relevante, sendo constantemente homenageada e reinterpretada.